Não posso culpar ninguém, sei que não. Não ousaria eu culpar ninguém a essa altura do campeonato. Agora, eles querem me levar no médico. Eles vem o quanto eu durmo de dia, mas não escutam meu choro da noite. O mundo é difícil e a carne é fraca.
A cabeça fica confusa, equilibrar tudo o que acontece não é uma das coisas mais fáceis a se fazer, e esse é o desafio que cada ser humano enfrenta todo dia em que abre os olhos. A vida nunca vai está totalmente boa, os problemas sempre ocorrem. Eu rompi a minha realidade de mundo perfeito tem lá uns 5 anos, quando eu perdi o meu avô. Desde então, tenho tentado me equilibrar.
Não sei se era porque eu já tinha crescido um pouco, já começava a sentir a realidade por meus próprios pés, mas sei que desde então não consigo pensar em nenhum ano em que as coisas foram fáceis. Depois da perda do meu avô não teve nenhum ano em que não fui por algum período frequente no hospital. Não lembro bem do ano seguinte, 2008. Mas em 2009 tinha tido o acidente do meu primo, e bom, já falei dele aqui, e sei que foi por milagre que eu ainda posso escutá-lo me chamando de "meu bebê". Lembro daquela agonia de toda vez que o telefone tocava podia ser notícia que temíamos. Lembro nesse ano também, de passar tarde inteiras no hospital, depois quando meu primo tinha ido pro quarto, de mão dada com ele, e com uma comunicação muitas vezes difícil por causa da traqueostomia. Mas graças a Deus ele saiu dessa.
Em 2010 foi a vez do meu tio, logo quando a gente começava a ficar próximo. Quando ele começou a falar que eu, e meus irmãos eram tidos como filhos dele também. Bom, ele nos deixou.
2011 foi vez da minha vozinha, mãe de minha mãe. Depois de tantos dias no UTI, tantas melhoras e pioras... Enfim, ela já andava muito triste desde que meu tio se foi. E quantas não foram as vezes que ela falou pra mim: já perdi meu pai, já perdi minha mãe, mas nada se compara com a dor de perde um filho. Então,a minha vozinha que fazia pão frito, contava histórias, de hábito tão simples e sempre tão dócil nos deixou. Miro essa minha avó da pessoa que eu quero ser quando for madura o suficiente pra ser alguma coisa.
Esse ano, a minha outra avó está no hospital. Com risco. Amanhã ela vai fazer a cirurgia que era pra ela ter feito na sexta e isso da muito medo. Fico pensando nesses meus parentes que já se foram, e quando choro em silêncio na madrugada é porque mais que saudade deles, e de querer entender o que eles diziam, eu sinto que eu não dei a atenção que devia para eles. Com essa avó quero fazer tudo diferente, eu quero tempo pra escutar dela histórias repetidas, pra passar domingos vendo o programa da Ana Hickman e falar sobre vôlei. Aliás, ainda tem aquele jogo da seleção que nós queremos ver ao vivo não é vó? Se eu pudesse te pedir algum presente minha avó, queria te pedir mais uns anos de sua vida, para que eu tente ser pra senhora, a neta que não fui pros meus avós por parte de mãe, e a sobrinha que não fui para o meu tio. Não posso ser hipócrita, sei que a situação é de risco, mas também não posso perder a minha esperança. Sei que se essa noite de hoje me bater a vontade de gritar alguma coisa como na última noite, eu vou gritar: força minha vó!
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